Para grandes estudiosos, a crise do Covid-19 não veio como uma grande surpresa. Já existia a previsão de diversas pandemias ao longo do século, decorrentes, principalmente, da nossa relação predatória com o meio ambiente, da globalização e do capitalismo desenfreado.
Sendo curto e grosso: a diminuição de áreas verdes no mundo inteiro traz animais silvestres cada vez mais para áreas urbanas e o consumo desses animais é um dos grandes vetores de doenças e novos vírus. A questão é muito mais complexa, e para se aprofundar você pode olhar aqui.
Então, não tardou para que pesquisadores de moda começassem a apontar tecidos anti-virais como uma tendência para o futuro. Isso decorre também da falta de material têxtil tecnológico para profissionais na linha de frente, que muitas vezes se encontram desamparados.
E (provavelmente na força do desespero e do ódio) o Brasil saiu na frente com a tecnologia do primeiro fio “anti-covid”, o Amni Virus Bac Off da Rhodia. A tecnologia do fio funciona a partir de um ativo antiviral que destrói a camada de gordura de vírus e evita, assim, que a roupa seja um veículo de transmissão de doenças.

O ativo leva apenas meia hora para fazer efeito e o tecido chega a custar de 20 a 30% do valor da poliamida comum, o que é bem acessível e demonstra uma possibilidade real dele ser empregado amplamente.
Outras marcas e pesquisas também procuram ou já desenvolveram esse tipo de tecnologia, como a marca Insider, que desenvolveu um ‘Kit Antiviral’ com camiseta e máscaras com tecido tecnológico antiviral que promete neutralizar o vírus em menos de 15 minutos através de nanopartículas de prata estabilizadas por uma superfície protetora aniônica.
Esse avanço tecnológico é importante para profissionais da linha de frente e principalmente, profissionais de saúde. Máscaras ou roupas hospitalares com esse tecido poderiam aumentar drasticamente a proteção dos profissionais e pacientes em hospitais ou zonas no risco e diminuir os níveis de contaminação.

Enquanto isso é promissor para áreas específicas, queremos ver isso sendo amplamente utilizado dentro da indústria da moda?
É quase que certo que nessa pegada de novidade, váaaarias marcas vão anunciar produtos com o novo “Tecido Anti-Covid” (e já começaram, inclusive).
Por mais que isso possa ser super legal e parecer muito interessante, estaríamos nos desviando da real discussão a cerca das pandemias e epidemias? Não estamos, de forma alguma, dizendo que esse tecido é algo negativo, só que temos que tomar cuidado.
Morozov chama isso de Solucionismo. A ideia do solucionismo é implantar novas tecnologias para evitar a discussão política, defender medidas “não-ideológicas” mas que continuam apoiadas nas estruturas capitalistas e neoliberais, sem discutir o real problema.
O maior objetivo do solucionismo é convencer o público de que a forma legítima de uso das tecnologias digitais é perturbar e revolucionar tudo — com exceção da instituição central da vida moderna: o mercado.
Evgeny Morozov (Tradução de Simone Paz)
Não entenda errado! Não é que essas respostas e inovações tecnológicas sejam ruins, pelo contrário, elas podem ser muito úteis. O grande problema aqui é adotarmos isso como a abordagem padrão para tudo, sem que nunca questionemos o real problema: as estruturas políticas, sociais e econômicas da nossa sociedade.
Ou seja, esses pequenos avanços tecnológicos e a sensação de resolver o problema não podem nos desviar de discutir a real questão sobre as pandemias mundiais, que é a nossa relação insustentável com o planeta.
Uma resposta para “Roupas Anti-Covid: solução ou solucionismo?”