A moda é feita por pessoas e para pessoas. Em meio a tantos relatos de atritos e relações tóxicas dentro da indústria de vez em quando encontramos histórias de afetos que merecem ser contadas. É o caso da NOVE, marca de Athos Henrique, com quem conversamos e nos apaixonamos completamente pelos seus casos e jeito de contar suas histórias.
A Nove surgiu em dezembro de 2019, a partir de um projeto de conversas que se transformavam em roupas, tudo catalogado em vídeos (disponíveis no perfil da marca). Naturalmente, a demanda pelas belíssimas peças que Athos criava para o projeto e para si mesmo, começou a crescer e o estilista viu a possibilidade efetiva de criar a própria marca.
Esse surgimento potente, mas ainda singelo, prova que a NOVE surgiu de conversas, afetos e colaborações. Uma moda realmente feita por/para pessoas, que começou sob demanda e, até hoje, é produzida em pequena escala e com uma relação muito próxima para com seus consumidores.
Rede de apoios e afetos
Como qualquer marca independente pequena de tamanho e grande de potência, Athos é responsável por grande parte dos processos da marca e conta com uma rede de apoiadores imprescindível, conta: “Aqui no Nove é uma loucura, porque eu faço quase todos os processos da marca e tenho um acompanhamento de profissionais incríveis, que conheci ao longo dos anos, trabalhando em outras marcas. Pesquisa e desenhos são comigo e bem independentes. A modelagem sempre surge depois de trocar figurinhas com a Cândida Célia e a Cleones Marta.”
Cândida Célia Cleones Marta
Athor Henrique: “Cândida é modelista e professora de modelagem há décadas, hoje uma garotinha de 76 anos com mais vigor que eu que tenho 25. Pra ter ideia de como conhecer o lugar de construção da marca e produto é importante para entender o que é ser local, vou te contar uma historinha. Quando o Nove começou, eu não tinha nada além das máquinas de costura na casa dos meus pais em Ribeirão das Neves, não tinha dinheiro pra quase nada, e a Cândita (apelido carinhoso), cedeu o espaço de aula na casa dela, pra ser o espaço de corte e modelagem do Nove ali no Salgado Filho. Ela acompanhava tudo e quando fui vendo, já estava praticamente morando lá, passava várias noites pra dar conta de fazer o que queria para as coleções, e pasmem, ela sempre fazia aqueles quitutes deliciosos, igual avó, o pão de queijo da Cândita põe do do Verdemar no bolso. O Nove é esse processo de aprender, para executar e a Cândida é sem dúvidas a mãe do Nove.”
“A Cléo está se tornando modelista, assim como eu, tendo aulas com a Cândida, porém a Cléo era contramestre na Mabel Magalhães, onde trabalhamos juntos, então é uma experiência gigante em construção de peças impecáveis. Na costura, quem pilota as peças e faz a maior parte da produção também sou eu, mas só depois de acertar tudo com a Cléo, que me ensina por telefone! É uma delícia, amo costurar e tendo a Cléo como professora EAD, é incrível! A Cléo é a costureira mais requisitada do mercado de luxo, os casacos que ela monta são referências de qualidade, meu sonho é alcançar a excelência da Cléo, que me acompanha desde o início, quando nem pensava em ter o Nove.”
“Até as pessoas chegadas mais recentes são muito especiais, não é sobre o tempo e sim sobre a consideração, hoje tenho na costura a Regina e a Marilac que me ajudam quando a coisa aperta e não dou conta de produzir tudo, a Regina pro tecido plano e a Marilac para malha! Eu não seria nada sem minhas meninas, sem contar as amigas palpiteiras! Se eu for citar todo mundo ferrou, vamos render um livro! Minha história com as pessoas que estão comigo hoje começou bem antes, quando ainda trabalhava em outras marcas, então são anos de uma relação muito saudável, quem quiser ir fazer compra comigo um dia fique a vontade, vai ver a delícia e a confusão que faço nas lojas, é o show da Beyoncé!” Continua o estilista.
Criação autoral e local
“Acredito que uma marca local se faz local, quando ela entende o lugar que ela pertence e valoriza a comunidade que faz o trabalho acontecer!” Athos começa.
Já sobre a criação autoral, para o estilista, o buraco é mais fundo. “Essa bandeira autoral eu não levanto porque tudo surge a partir de uma referência e não necessariamente é uma cópia tá? Existe uma indústria da cópia e existe quem quer se diferenciar, estou no segundo bloco, e para ambos caminhos você precisa ter referência.”

Ele continua: “Das nacionais a Apartamento 03 é o meu time de futebol, amo a À la Garçonne, queria casar com o André Boffano da Modem, adoro a Coven, já trabalhei lá e a Liliane é a rainha do Tricô, queria ter a atitude dos meninos da Cacete, adoro a Led do meu querido Célio Dias e por aí vai. Precisamos parar de ter medo de ter referências reais e entender que não cabe mais sustentar a prepotência de ser um gênio criativo, é muito mais interessante entender o caminho que as nossas referências percorreram e validar essa história, sem usurpar nada de ninguém. Isso é autoria pra mim!”
Athos não tem problema em apresentar suas referências, afinal, como ele mesmo disse, tudo precisa surgir de algum lugar, e o discurso de gênios que criam tudo do zero não cola muito hoje em dia, né?
“Nada aqui é uma cópia, mas não surge de um gênio criativo que sai de dentro da lâmpada dourada da criação autoral. É muito estudo, muita pesquisa e um sincretismo maluco que faço juntando tudo, e no final tenho um produto que é a minha identidade! Não tenho problema algum em falar sobre as marcas que são referências pra mim e em vários quesitos que não só o produto. ” Conclui.
Athos em atos.Creio que seu estilo não é de se vestir e sim de se despir .Despir de si mesmo e vestir de vida, de conquista de espaço ,de independência dos padrões limitantes de mundo . Gosto da linguagem que consegue estabelecer entre as cores , formas e histórias.Tenho muito orgulho de você querido.
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OBRIGADA Athus! Sinto me lisonjeada em ser citada . Fico feliz em poder contribuir mesmo que seja com pouco com seu sucesso! PARABÉNS! Continue assim: Humilde e competente!! Sei que irá longe……
Beijos! Marilac!
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