Entre saúde mental, drogas, transtornos alimentares e saúde mental, aprendemos algo com a celebrity-culture dos anos 2000 ou estamos repetindo os mesmos erros?
O que uma maquiagem que busca simular olheiras, com milhões de visualizações entre Reels e Tiktok, pode nos dizer?
Existem diversas questões e possibilidades a serem analisadas nesse quesito.
Estamos vendo uma continuação de um movimento de aceitação de imperfeições e da realidade; cansados de passar corretivo e base escolhemos aceitá-los e, talvez, ir além e realçá-los?
Ou, por outro lado, estamos de frente a um movimento de estetização ou glamourização da dor, de transtornos e de problemas de saúde mental?
Ainda, seria isso apenas um natural retorno do ciclo de tendências que agora revive a estética grunge, tão caracterizada pela imagem anti-estética, banda de garagem e rockstars com aparência não tão saudável? Mesmo que o seja, cabe lembrar que grandes representantes desse estilo musical e estético não tinham lifestyles exatamente saudáveis, muitas vezes regados a remédios, bebidas e drogas aos montes.
Mais ou menos no mesmo período, e não por coincidência, explodia na moda o Heroin Chic. Para os mais desavisados, o heroin chic dominou a cultura pop por um bom tempo, caracterizado pela estética de mulheres hiper-magras (possivelmente anoréxicas) com aparência pouco saudável e que remetia, bem literalmente, ao uso de drogas, vícios e à glamourização desses.
Não preciso me delongar muito para explicar o quão nocivo esse movimento foi para a moda e as cicatrizes profundas e duradouras que se estendem até hoje. A glamourização do uso de drogas como a cocaína e a heroína – obviamente -, da magreza extrema, dos transtornos alimentares e psicológicos e da ausência de saúde como um todo devem mais a essa estética – se é que podemos chamar disso – heroin chic.
Vemos também um retorno forte da estética emo nos últimos tempos, que em algum momento se fundiu com os games e deu luz aos e-boys. O TikTok, principal terreno fértil desse resgate estético, enquanto é terreno fértil para conversas abertas sobre saúde mental e a naturalização dessas discussões – extremamente importante e característico das novas gerações – é também palco de discursos irresponsáveis sobre o assunto, gordofobia e incentivo a transtornos alimentares – mais ou menos como foi o Tumblr lá em 2008.
Cabe aqui mais uma reflexão, vivemos o ápice uma das séries mais aclamadas dos últimos tempos: Euphoria. Já chamada, desde antes de seu lançamento, de a “Skins” da nova geração. Válido dizer que a forma como os transtornos psicológicos, alcoolismo e vício em narcóticos são tratados em Euphoria não passa nem perto da glamourização, estetização e até irresponsabilidade com que era feito em Skins.

Apesar disso, é, sim, possível traçar alguns paralelos. Importante também apontar que, a partir do momento em que produtos midiáticos e/ou culturais são jogados ao mundo, eles se tornam “do povo”, passíveis de apropriação e ressignificação pelo público, ainda mais com o poder de penetração e disseminação das redes sociais. Portanto, independente de quanta responsabilidade seja tratada a questão das drogas em Euphoria, a produção não está imune à glamourização que vem, quase sempre, junto aos produtos midiáticos dessa magnitude.
A realidade está cada dia mais intragável. A ameaça do colapso climático, as desigualdades sociais, a crise e o colapso sanitário trazido pela pandemia e tantos outros fatores que marcaram fortemente a todos nós. Seria essa apenas uma ação-reação da realidade caótica em que vivemos? Uma espécie de aceitação radical? De qualquer forma, não é nenhuma novidade que a estetização e glamourização de dor e problemáticas é responsável por trazer mais danos do que benefícios relativos à aceitação.