Essa semana a #Nike anunciou o Go FlyEase, um tênis que não precisa de mãos para ser calçado, o processo pode ser feito todo pelos pés (vídeo acima). Por trás do que pode parecer um simples design arrojado e uma ação de PR, está uma real proposta de moda com acessibilidade.
Em 2012, Matthew Walzer, um garoto, na época, com 16 anos e portador de paralisia cerebral, escreveu para a Nike, sobre o desafio de realizar uma atividade tão automática para grande parte da população: calçar seus sapatos e amarrar o cadarço. Desde então a marca esteve em contato com Walzer e tem estudado e desenvolvido modelos de calçados para pessoas com deficiência.

A atleta-esgrimista em cadeira de rodas Bebe Vio, foi escolhida como uma das personagens para protagonizar a campanha do Nike Go FlyEase, em que ela conta que sempre demorou muito para colocar seus sapatos na cadeira de rodas, algo que foi facilitado com esse modelo.
A atleta, em entrevista, também aponta o que parece ser a outra linha narrativa da comunicação do Nike Go FlyEase: um tênis fácil e rápido de vestir, não apenas para pessoas com deficiência, mas para todo mundo na “vida real” (sic). No texto de lançamento do Sneaker, a marca aponta que os tênis podem ser para pessoas como Bebe Vio ou para pais atarefados no seu dia-a-dia.
Você pode odiar amarrar seus cadarços o quanto quiser, mas para pessoas sem deficiência, essa não é uma atividade exatamente difícil. Por isso, é surpreendente que o Nike Go FlyEase seja anunciado como um tênis “fácil de calçar” para pessoas sem deficiência antes de um design para acessibilidade. Ao passo que pessoas com reais dificuldades de calçar e vestir roupas foram, e são, há tanto tempo invisibilizadas pela mesma indústria.
Com exceção de marcas esportivas, que, devido ao mercado esportivo para pessoas com deficiência e eventos paralímpicos, já se encontrava anos luz à frente da grande indústria da moda. Mas a verdade é que por muito tempo a moda se fez cega para pessoas com deficiência e não podemos dizer, com certeza, que essas pessoas são integralmente ouvidas e consideradas nos processos produtivos.
Itens como zíperes e elásticos incorporados a materiais como Jeans já tiveram o propósito de criar roupas com design inteligente, ainda no século 20, com a Levi’s. Essas peças no entanto foram rapidamente apropriadas pelo restante da indústria da moda e pouco se fala disso hoje – reitero aqui o meu questionamento sobre a Nike não tornar isso uma linha narrativa de comunicação.
Isso, por muito tempo, afastou pessoas com deficiência da moda. Sendo sempre obrigadas a consumir de lojas “especializadas”, adaptar e criar suas roupas ou se tornarem dependentes de terceiros para uma atividade que deveria ser tão simples como o vestir-se.
Como resultado da luta de diversas personalidades, ativistas e militantes por sua inclusão e representatividade na mídia e, consequentemente, na moda – porque toda imagem é uma imagem de moda – hoje, falamos cada vez mais sobre inclusão e integração de corpos não-normativos.
Uma das grandes vozes desse movimento na moda é Aaron Phillip, trans, negra e PCD, mas, acima de tudo, um ícone fashion. Depois de ser descoberto em 2018 pela Elite Management, Aaron se tornou figurinha carimbada nas marcas de moda mais interessantes e atualizadas, e estrelou campanhas, entrevistas e editoriais como uma das vozes mais importantes no ativismo para pessoas com deficiência e LGBTQIA+

No Brasil, a À LA GARÇONNE criou uma completa linha de roupas inteligentes com peças que pautavam a acessibilidade em colaboração com a R******** (gigante do fast-fashion nacional).
Na segunda década do século 21, falamos cada vez mais sobre diversidade e integração de diferentes corpos, além de corpos de diferentes tamanhos é preciso, também, considerar suas diferentes limitações.
